A procura pela prática da atividade física encontra justificativa na crescente veiculação de informações e imagens a respeito da saúde. De acordo com inúmeras pesquisas, a prática regular de atividade física proporciona benefícios fisiológicos, como a prevenção de doenças cardiovasculares e o controle da pressão arterial, e psicológicos, como a atenuação da ansiedade e o fortalecimento do autoconceito.
Da interação entre mecanismos fisiológicos e psicológicos resulta a sensação de bem-estar procedente da prática de atividades físicas. Contudo, o convite à gestão do próprio corpo tem configurado uma realidade perigosa e resultado em casos extremos. Os lipofóbicos, por exemplo, sujeitos que lutam diariamente contra o fim de sua gordura corporal, utilizam de todos os procedimentos capazes de oferecer à sua imagem uma aparência ideal, mas em estilo de vida, na maioria das vezes, contrário ao da saúde.
Esta é a realidade das compulsões, que se configuram como forma perturbada de ação, em que o sujeito não consegue mais regular os seus impulsos, voltando-se até contra a própria auto-conservação do corpo. Carente de aspirações originais e invadido por um incessante sentimento de medo e fracasso, este sujeito, insatisfeito, guia-se pelos modelos estéticos do momento. “Porta-vozes” deste risco à saúde, a bulimia, a anorexia e a vigorexia, caracterizando-se por uma perturbação na percepção da forma e do peso corporal, são exemplos, cada vez mais presentes, da hegemonia da aparência.
Compreender o sentido que o corpo e o alimento têm adquirido contemporaneamente é perceber todo o discurso que se configura como nova moralidade, em que se padroniza o esteticamente bonito e coloca a “boa forma” como “compromisso irresistível”, na medida em que garante ao seu “escultor” um valor social de sucesso, transmitindo uma mensagem fantasiosa de poder e êxito.
Portanto, é inegável que, adequada às condições individuais e com a devida orientação, a prática da atividade física oferece ganhos físicos, psicológicos e sociais. Entretanto, a superestimação da forma e do peso corporal pode tornar-se uma experiência opressiva de pouca saúde psíquica e de risco à vida.
Lucas Frederico Bezerra
Psicoterapeuta cognitivo, de família e de casal